Seg, Abr 29, 2024

9º Encontro FBSP: Jornalistas e policiais debatem novas narrativas e abordagens

A relação entre a mídia e os órgãos de segurança pública, entre jornalistas e agentes de polícia e a busca de uma nova narrativa para tratar de segurança, criminalidade e violência foi tema de uma das oficinas do 9º Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O excesso de quantidade de assuntos sobre violência na imprensa, ao invés de temas afins e mais amplos, como segurança pública, foi uma das críticas apresentadas. Conforme diz a jornalista Flavia Pinheiro, repórter do jornal “O Globo”, “tem muito mais reportagem sobre violência do que sobre educação”.
Já para a pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, da Universidade Candido Mendes (Ucam), o problema não é quantidade de informação sobre violência, mas a qualidade. “A saída não é falar muito sobre violência, mas se falar muito com qualidade”, diz. 
Além de defender uma crítica à imprensa melhor formulada, ele apoia que o policial da ponta, praças e agente, precisa ser mais ouvidos pelos jornalistas, já que as fontes mais consultadas pela imprensa são das cúpulas das corporações. “As pesquisas quantitativas mostram que os policiais querem mudar a polícia. É por causa dos coronéis e dos delegados que não se muda a polícia, enquanto a grande maioria quer mudar a polícia”, afirma.
O baixo número de fontes de informação, e até mesmo a dificuldade de acesso, é outro problema apontado pelos jornalistas que cobrem a área da segurança. Se por um lado as fontes estão centradas nas autoridades políticas e policiais, por outro, existe uma dificuldade de obter informações brutas como dados e índices estatísticos.
Segundo a repórter Andrea Dip, a experiência da Agência Pública, portal de jornalismo voltado à grande reportagem, demonstra a dificuldade de acesso às informações da área de segurança pública, que muitas vezes são escondidas pelas autoridades ou simplesmente não estão organizadas. Por isso, o objetivo da Agência - fazer jornalismo de qualidade para qualificar o debate na área, baseado em dados da realidade - enfrenta dificuldades com a falta de acesso aos dados públicos. “Hoje em dia as pessoas fazem debate pautados em ‘memes’ da internet e em programas vespertinos que jorram sangue”, exemplifica.
A reportagem na área policial também enfrenta dificuldades, segundo Flavia, para se aproximar de fontes alternativas às oficiais, “na última década e meia”. Houve uma mudança total entre os jornalistas e as comunidades marginalizadas, especialmente depois do episódio da morte do jornalista da TV Globo Tim Lopes, atesta a repórter do jornal “O Globo”. “Havia um tempo em que o crachá de um jornal era um passe livre para entrar nas comunidades. Isso acabou e agora a fonte é predominante é a polícia, que de modo geral reproduz estigmas”, afirma.
As ações policiais dirigidas principalmente contra as populações marginalizadas e a cobertura da imprensa, que também encara esse grupo de forma estigmatizado, também são apontados como problemas a serem superados. “Embora tenha várias plataformas de divulgação das informações, o debate fica andando em círculo, de estigmatizar determinados segmentos da sociedade, moradores da periferia e negros”, explica Flavia Pinheiro. “O desafio [da imprensa e das instituições de segurança] é quebrar esse elo de reprodução de padrões de representações.”
Repórter do diário “Folha de São Paulo”, a jornalista Fernanda Mena defende que a comunicação de massa deve avançar qualitativamente em sua narrativa em três aspectos: analisar a historia; compreender o contexto; e apresentar a conjuntura. Para ela, as reportagens que tratam da temática violência e criminalidade devem “explorar as engrenagens históricas e sociais que fazem a violência aumentar sem perder a dimensão humana”.
No mesmo sentido, o jornalista André Caramante defende uma ação jornalística mais próxima das pessoas. Em sua opinião, a impressa tradicional não tem mais mobilidade a acaba ficando apenas com a versão oficial. De novo, a dependência à fonte de informação dos dirigentes policiais e políticos volta a se destacar. Fórum Brasileiro de Segurança Pública
O 9º Encontro do FBSP acontece na FGV do Rio de Janeiro entre os dias 28 e 31 de julho, e debate temas como formação em segurança pública, homicídio de policiais e ciclo completo de polícia.
 
A abertura do evento contou com a presença do atual secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, e da secretária Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Regina Miki.
 
Na quinta-feira (30), o presidente da Anaspra, cabo Elisandro Lotin de Souza, faz palestra sobre o tema “Homicídios, direitos humanos e acesso à justiça”, com a coordenação do vice-presidente da Anaspra, subtenente Heder Martins de Oliveira, além da participação de Daniel Lerner (SRJ/MJ) e Helder Rogerio Sant Ana Ferreira (IPEA).

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